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Resenhas do blog, trago hoje um dos meus livros preferidos da literatura
brasileira contemporânea, Reescrevendo
Sonhos, da autora Marcia Dantas.
Reescrevendo Sonhos conta a história de Luciana, uma escritora em tempos ruins
devido à uma tragédia, e que encontrou fuga do bloqueio criativo no rosto de
uma mulher que aparecia somente em seus sonhos, como uma espécie de salvação,
luz – ou algo do tipo.
E essa mulher parece ser o impulso necessário que Luciana precisava para começar escrever uma nova obra depois de tudo que aconteceu. Só que há um problema: a ausência de explicações quanto à origem dessa moça em seus sonhos não permite que a história tenha um desfecho adequado. É aí que ela conhece Bárbara, uma pessoa enviada pela editora, para ajudá-la nesse empecilho, já que a editora quer lançar o livro a qualquer custo. O que Luciana não esperava era que Bárbara tivesse uma assombrosa semelhança com a moça do sonho.
E essa mulher parece ser o impulso necessário que Luciana precisava para começar escrever uma nova obra depois de tudo que aconteceu. Só que há um problema: a ausência de explicações quanto à origem dessa moça em seus sonhos não permite que a história tenha um desfecho adequado. É aí que ela conhece Bárbara, uma pessoa enviada pela editora, para ajudá-la nesse empecilho, já que a editora quer lançar o livro a qualquer custo. O que Luciana não esperava era que Bárbara tivesse uma assombrosa semelhança com a moça do sonho.
Embora eu discorde
veemente sobre a existência de histórias totalmente originais, Reescrevendo Sonhos me faz questionar
sobre essas certezas. É intrigante, e foge muito daquele drama barato que nós
estamos acostumados a ver, seja na televisão, seja nos livros. Não é batido,
tampouco previsível. Destaca-se entre a enorme pilha de histórias sobre o
casamento quase sempre desastroso entre sonhos e realidade.
Pensando na trama como
uma receita, podemos ver ainda mais a maestria singular e simples que Marcia
teve a ousadia de mostrar. Como ingredientes, temos o Doutor Jonas, uma espécie
de farol que guia a personagem principal, Luciana; Bárbara, a funcionária da
editora, que além de servir como interesse amoroso, é uma forte referência para
amizade. E, por último, mas não menos importante, Beto, que, embora apareça
pouquíssimas vezes, é muito mais que um obstáculo para o relacionamento de
Luciana para com Bárbara. Ele se torna o símbolo da gentileza e da frase “se a ame, deixe-a ir”, mas sem cair no
clichê, e na previsibilidade ruim.
Ainda na mesma analogia,
sabemos que os ingredientes em si não são o bastante. E os personagens por si
só também não. A forma que Marcia trata cada um deles durante a trama é gentil
e cortês. Ela simplesmente deixa eles serem quem são, e não é possível perceber
tentativa de controle total sobre a história. Tudo parece escrever-se sozinho.
É humanizado, naturalizado. É real. Marcia nos mostra que não precisamos de
estereótipos para conquistar leitores, muito menos desnaturalizar as
personagens, porque, assim como nós, elas são pessoas – de verdade.
E é isso que me intriga.
A questão da história em si, e de como ela é contada. A trama crua e nua
facilmente pende para o lado previsível e chato. Aquela coisa que nós estamos
cansados de ver. A historinha de uma pessoa que é guiada pelo terapeuta na
trama inteira. Todavia, não é dessa forma que estamos propensos enxergar este
livro. Graças à autora. Ela resgata a ideia propensa à chatice, e nos conta,
por duzentas e treze páginas, que as coisas não aconteceram da forma que
estamos pensando – de maneira morna e chata.
Utilizando dos adjetivos
certos, e insubstituíveis, ela traça um caminho despretensioso até nossos
corações, e quando menos esperamos, estamos conquistados – imagino que deve ser este o segredo, motivo, pelo qual não conseguimos
parar de ler depois da página vinte. E nos mostra que os fatos ali
apresentados aconteceram da forma mais real que possa existir. Nos faz esquecer
que se trata de uma ficção, e por vezes é possível flagramos, tratando as
personagens como realmente são: pessoas.
Mas, não obstante, ela
abusa bastante de flashbacks. Achei
muito bem trabalho, inclusive a alternância, em dado momento, entre realidade e
passado. Sabe aquele momento nos filmes em a personagem vai contar o que
aconteceu, mas para que haja mais emoção, é utilizado cenas dos fatos e não a da narração deles? Então, é basicamente isso que acontece.
Outro fator importante é
a ambientação. Ela não abriga somente as personagens, mas ao leitor também. Me
senti dentro de cada cômodo, cada lugar sem muitos esforços. Mas isso não
implica dizer que uma narração exata de cada âmbito. Não, não e não. E
diretamente esse o segredo não só para uma leitura corrente, mas também para
imaginarmos, sem sentir, tudo a nosso gosto. É importante que o autor dê espaço
para a imaginação do leitor – por dois
motivos: 1) ficaria uma leitura cansativa e chata; 2) a mente de quem lê
precisa trabalhar, a graça de escrever é a subjetividade bem temperada; um
livro nunca é visto da mesma forma por pessoas. Nem mesmo quando você o lê
novamente.
Sobre pontos irritantes,
sim, encontramos alguns pelo caminho. Porém necessários. Não são irritantes por
simplesmente serem parte de uma enrolação, ou a preparação em demasia para um grande drama.
Longe disso. Os pontos irritantes servem para mostrar que nós, leitores,
torcemos para que as coisas deem certo, mas que nem sempre assim acontecerá.
Eles servem, sobretudo, para nos lembrar que a história só é ficção, porque não se baseia com todos os pormenores numa ocasião real.
Portanto, meus amigos, Reescrevendo Sonhos é mais que um livro,
e sim uma jornada. Do sufoco quase interminável à luz no fim do túnel; dos
erros que parecem incorrigíveis ao prestígio do acerto. Da trama nua e crua
previsível às curvas inesperadas e sentimentos descontrolados. Do descompasso
de uma vida ao compasso de outra. Definitivamente, é um livro para inspirar e
sentir. Um ótimo exemplo de literatura representativa.
Segue uma curta entrevista com a autora, Marcia Dantas.
Ana: Dizem que as personagens têm um pouco
de seus autores. No caso de Reescrevendo Sonhos, quais delas possuem um pouco
de você? E por quê?
Marcia: Eu meio que me
dividi entre as duas (risos). Luciana ganhou minha mente fértil, enquanto
Bárbara virou a maníaca por controle. Nem sei porque, talvez uma questão de o
nosso eu ser uma parte do processo de criação dos personagens, especialmente
quando é nosso primeiro livro.
Ana: Entendo, acontece
comigo também (risos). Durante a trama, percebemos a existência de cenas com cargas emocionais
pesadas, tanto para a personagem Luciana quanto para o leitor. Existe alguma espécie
de ritual para escrever essas cenas? E se sim, conte um pouco dela.
Marcia: Eu não diria
exatamente um ritual. Na verdade, no meu louco processo de escrita, essas são
as cenas que vem primeiro na mente e eu construo tudo para chegar nelas. Inclusive
geralmente eu consigo achar alguma música que tenha a essência daquela cena e
eu escuto ela em repeat até
completá-la na minha mente (risos).
Bate-bola, jogo rápido (sobre o livro):
Uma frase: “Mas a esperança a
achou do mesmo jeito, sem que Luciana a esperasse."
Uma cena: Eu gosto muito da sequência em que a Luciana confia na
Bárbara a ponto de pedir que ela venha ao apartamento e fique com ela naquele momento
tão difícil de crise. Desde o momento em que ela se abre até aquela cena no
quarto e o café-da-manhã no dia seguinte. Foi uma das primeiras que escrevi e
ela já me dava uma prévia de como seria a relação delas, então tudo de como a
amizade delas cresceu foi baseado nessas cenas, que me deram o norte de como
seria.
Uma personagem: Bárbara, definitivamente Bárbara. Ela
cresce no livro do mesmo jeito que cresceu enquanto eu a escrevia. Luciana é a
protagonista, mas Bárbara é aquela que admiro profundamente.
Uma música que resume a trama, ou chegue perto disso: Estou inclinada a dizer Feeling Good da diva Nina Simone, por
ser o estilo e a cantora favorita da Babi. E por ela ser o símbolo de um
recomeço, que foi uma jornada para Babi e Luciana.
Finalizando... próximos trabalhos: Bom, estou participando de duas
antologias, uma organizada pelo Davi Paiva, e outra por mim. Também está pra
sair a antologia Maravilhosas Distopias, com um conto meu. Todas essas três
sairão pela Darda Editora. Também passei no Desafio Scribe sobre LGBTfobia e
estou esperando que eles me digam como funcionará a publicação deles. Esse ano
ainda sai a segunda edição de Reescrevendo Sonhos, com melhorias
significativas. E mês que vem começo a trabalhar no livro Flores Frescas,
baseado em um conto homônimo meu e em duas músicas de uma banda chamada
Halestorm: I’m not an Angel e Familiar Taste of Poison. Meu projeto
mais caro no momento.
Para acompanhar Marcia Dantas e seus feitos, incluvise a segunda edição de Reescrevendo Sonhos, curta Escritos de Marcia Dantas no Facebook!
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