2016 era o ano que precisávamos. Isso mesmo, sem o ponto de
interrogação.
O ano que ousou não ser um simples substantivo. Quis ser, e foi, um
advérbio só para modificar os nossos verbos e adjetivos. Significou transformar
as nossas ações, talvez foi o ano para pagar língua, para falar “eu te disse”.
Significou transformar as nossas qualidades ou o que julgamos ser qualificador.
Mudou as nossas perspectivas do bonito, do feio, do importante e do urgente.
E, por falar em urgência, 2016 veio para ensinar-nos que o que é para ser dito e feito precisa acontecer agora. Para empurrar-nos para o meio da rua só
porque costumamos hesitar ao atravessá-la. Para que, no final, percebêssemos que
o presente também necessita da nossa atenção. Foi, mais do que os anteriores, o
ano do agora.
Foi também o ano das interjeições. Até o Facebook precisou de novas
reações. Há quem diga que 2016 deixou-nos de mãos atadas. O que é uma mentira
fantasiada de verdade. 2016 trouxe o curso natural da vida, nós é que não
sabíamos como lidar. Não estávamos preparados para nada. Talvez porque
preocupamos demais com o passado. O futuro veio com gosto de presente e
derrubou cada um que olhava para trás.
Entretanto, 2016 fez por nós o que nenhum outro ano havia feito. Entrou
à casa e tirou toda aquela tralha que guardávamos nas gavetas. Ensinou-nos que
desapego é possível e necessário, porque nada é para sempre. Bateu na nossa
cara e disse que renovação também faz parte da vida – e que não é só mudar de
cabelo ou de roupa; vai além disso. Então, de uma maneira meio bruta, tirou da
nossa vida tudo que não devíamos mais ter. E nós escolhemos chamar isso
de tragédia.
2016 não parou por aí. Ao ver que nós nos encolhemos de medo por tirar
da nossa vida as inutilidades, esse ano resolveu que precisávamos aprender outra
coisa. E, de uma forma que ouso chamar de didática, fez cada um de nós cair.
Caímos, de maneiras diferentes, só para que 2016 pudesse ensinar-nos como levantar
e ficar de pé. Foi o ano que tocou-nos com certa brutalidade e disse “é assim que se faz!”.
Foi o ano que não tinha paciência para as nossas desculpas. Em 366 dias,
mentir para si mesmo com as desculpas prontas não era permitido. Foi proibido fazer-se
ocupado só para fugir dos problemas. 2016 fez com que cada um deles nos
perseguisse. Se você não vai até o problema, o problema vai até você. Foi o ano
que fez-nos acreditar que fugir nem sempre é uma opção. O ano da coragem
forçada.
Mas a bondade incompreendida de 2016 não para por aí. 2016 compreendeu
cada um de nós. Ele sempre soube que mesmo com todos esses ensinamentos, nós continuaríamos
a traçar o velho caminho e a culpar-lhe por todos os obstáculos. Deu-nos um dia
a mais para que nós entendêssemos que isso não era brincadeira.
Eu poderia continuar advogando a favor deste ano peculiar, mas paro por
aqui. 2016 foi para nós o que 2015 não teve coragem de ser. Difícil, doloroso, às
vezes solitário, um pouco intragável, revelador, mas necessário. E o
trecentésimo sexagésimo sexto ensinamento diz-nos que ainda temos muito que
aprender.
Feliz Ano Novo.
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